Coluna de Ricardo Rodrigues originalmente publicada no site do Jornal Hoje em Dia.
Essa semana estive em Poços de Caldas à trabalho e, durante uma reunião com o prefeito do município, tive vontade de premiá-lo. Isso porque o comércio e demais setores econômicos dessa famosa cidade do Sul de Minas, conhecida por suas estâncias hidrominerais, não tiveram nenhuma restrição longa e demasiadamente severa na tentativa de conter a Covid-19, na contramão do que aconteceu em Belo Horizonte. Por lá os gestores conseguiram encontrar um equilíbrio entre o cuidado com a saúde da população e a economia.
Logo quando a pandemia começou, em meados de março, Poços de Caldas determinou o fechamento de todos os estabelecimentos considerados não essenciais, inclusive as fronteiras para turistas. Porém esse lockdown durou pouco. No dia 1º de maio, um decreto municipal autorizou a reabertura do comércio, desde que fossem seguidos os protocolos sanitários para a prevenção do vírus. Entre as restrições deste momento estava o horário de atendimento até às 22h.
Pouco mais de um mês após o retorno das atividades comerciais na cidade, a prefeitura decretou o fim da limitação de horário. Já em setembro, as fronteiras foram reabertas e o turismo permitido. Para nível de comparação, neste mesmo período, os bares e restaurantes de BH ainda iniciavam seu processo de reabertura, após longos cinco meses de portas fechadas.
Quando tudo parecia apontar para o fim da pandemia e das restrições, vieram as eleições municipais. Depois delas os números começaram a subir vertiginosamente também no Sul de Minas.
Em janeiro deste ano, com leitos de UTI ainda em situação controlada, porém com muitas denúncias envolvendo aglomerações em bares nas madrugadas, a prefeitura decretou a limitação de horário dos estabelecimentos para às 23h59 e acirrou a fiscalização. Mas em momento algum, foi imposto um novo lockdown ou Lei Seca. A gestão municipal ateve-se apenas a penalizar os infratores, ou seja, aqueles que não cumpriam os protocolos.
O município continuou com a situação de ocupação de leitos de UTI ainda sob controle. Houve um pico que se aproximou de 75%, porém se mantém, desde então, na casa dos 50%. O Comitê de Saúde da cidade, inclusive, enxerga a ocupação desses leitos como o termômetro mais importante na tomada de decisões. Sempre deixou bem claro que se ela passar de 75%, novas restrições e até mesmo o fechamento do comércio serão anunciados.
Soma-se a essa transparência, o engajamento da própria população em manter e respeitar os protocolos e da grande maioria dos empresários em cumpri-los.
Poços de Caldas é a prova de que é possível gerir uma crise sanitária sem fechamentos e extremismo. Existem várias maneiras de cuidar de uma cidade e de todos os setores nela contidos, que não seja com autoritarismo. Espero, sinceramente, que esses ares das boas práticas cheguem a nossa capital.
Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira
Comments