Coluna de Ricardo Rodrigues originalmente publicada no site do Jornal Hoje em Dia.
Como se não bastasse o lento processo de retomada do setor de bares e restaurantes, depois que 40% do segmento ‘quebrou’ por conta da pandemia, eis que fomos surpreendidos por outra paulada essa semana. Na última terça-feira (29) a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou um aumento de 52% no valor da bandeira vermelha patamar 2, taxa extra cobrada em junho na conta de luz. A partir deste mês, ela passa de R$ 6,24 por 100 kWh consumidos para R$ 9,49 por 100 kWh.
A explicação para a alta é o aumento do custo de geração de energia no país, por causa da crise hídrica. De acordo com o governo federal, o Brasil enfrenta a pior estiagem dos últimos 91 anos, o que levou ao maior acionamento de termelétricas (que geram mais custos do que as hidrelétricas).
Nem sei que adjetivos usar para nomear esse ‘presentinho’ de início de mês. Já estávamos castigados não só com o fechamento do comércio, mas também em virtude de outros aumentos, como o gás e a alimentação em geral. Agora teremos que decidir se repassamos o preço desse novo reajuste aos clientes. Isso pode representar, infelizmente, mais empresas que não vão dar conta de sair da pandemia.
Vale ressaltar que a energia elétrica nos bares e restaurantes é fundamental para os serviços da cozinha, sistema de freezers, além, obviamente, do próprio sistema de iluminação. Por isso, essa notícia, além de triste, soa, sobretudo, como um grande desrespeito dos nossos gestores à todas as empresas que sempre geraram riquezas e empregos para este país, mas agora, mais do que nunca, são abandonadas nas UTIs do descaso no exato momento em que mais precisam de ajuda.
Hoje, muitas delas, diga-se de passagem, respiram no canudinho, e com esse novo aumento, calcula-se que várias que ainda não conseguiram se restabelecer vão continuar nesse processo doloroso de decadência.
E o problema parece sem saída, tal como um labirinto engenhoso. Isso porque apesar de outras fontes de energia, como a fotovoltaica, produzida a partir do calor e da luz solar, serem uma aparente alternativa, a tentativa de substituição gera investimentos onerosos. E grana é tudo que não temos no momento.
Entendo e admiro profundamente a capacidade de reinvenção que nós, brasileiros, temos para lidar com as adversidades. Conseguimos nos adequar aos mais diversos cenários e ambientes. Se não fosse esse poder de adequação, inclusive, o número de falências na pandemia teria sido bem maior. Mas, em alguns casos, ficamos literalmente de mãos atadas, sem sequer conseguirmos nos reinventar.
Essa é, definitivamente, uma conta que não deveríamos pagar agora.
Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira
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