Conteúdo originalmente publicado no jornal Hoje Em Dia
Já não bastasse os cinco meses de portas fechadas, que contabilizaram inúmeras perdas e prejuízos, nos últimos dias ainda fomos surpreendidos com uma alta de insumos básicos indispensáveis para qualquer restaurante. O Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA) subiu 2,44% em 12 meses, enquanto a inflação dos alimentos cresceu 8,83% no período. Esta alta não tem apenas um alimento responsável, pois a maioria deles está com preços recordes no campo. Porém, três chamaram a atenção nos últimos dias: o arroz, com valorização de 19,2% no ano; o óleo de soja, que subiu 18,6% no período; e o feijão preto que ficou 28,9% mais caro.
De acordo com economistas, dois fatores explicam essa alta. O primeiro deles é o dólar alto, que faz com que os produtores a aumentem as exportações, reduzindo, assim, a oferta de produtos no mercado interno. Outro motivo é o auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal, que estimulou o aumento do consumo. O benefício foi direcionado, em grande parte, para a população mais pobre do país, que tem uma cesta de compras formada, em sua maioria, por produtos básicos, como alimentos. Logo, se há uma expansão acentuada da demanda, os preços vão às alturas. Essa, feliz ou infelizmente, é uma lei básica da economia.
Entretanto não posso deixar de ressaltar que esse cenário é 0% auspicioso para o segmento de alimentação fora do lar. Essas altas trazem um risco muito grande para os bares e restaurantes que, por não saberem se os reajustes são meramente especulativos ou simbolizam o início de um processo de inflação sem controle, certamente não conseguirão manter os custos, [muitos já não estão conseguindo], sendo obrigados à repassá-los ao consumidor final. Vale aqui enfatizar novamente um importante parêntese: tudo isso acontece em um momento no qual mais precisamos de um respiro, depois de termos encarado um longo período de portas fechadas, estarmos abertos de forma gradual e com capacidade de ocupação reduzida para mais da metade [o que obviamente já impacta no faturamento] e sem sabermos se poderemos continuar funcionando em um futuro não muito distante.
Ainda que vários estabelecimentos desenvolvam uma excelente gestão/administração da crise, agindo com cautela neste momento, é impossível fazer malabarismos, visto que os produtos que encareceram, como já disse no início deste texto, são básicos na lista de compras de qualquer restaurante. Portanto, é impossível deixar de comprá-los, o que nos deixa reféns dos preços abusivos.
Torço, sinceramente, para que esses reajustes repentinos sejam meramente especulativos. No aguardo das cenas dos próximos capítulos.
Ricardo Rodrigues – Presidente ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira
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