Coluna de Ricardo Rodrigues originalmente publicada no site do Jornal Hoje em Dia.
Pelo segundo ano consecutivo Belo Horizonte terá um Dia das Mães com bares e restaurantes fechados. Data essa que é, disparada, a melhor em termos de faturamento para o setor. Aguardávamos ansiosos para uma flexibilização que realmente atendesse as nossas necessidades. Desejávamos abrir não apenas aos domingos, como também termos autorização para funcionar no horário noturno e assim deixar no passado o decreto atual, cujo funcionamento é liberado até às 16h. Tal norma descabida, vale ressaltar, inviabiliza a operação de 70% dos bares da cidade, que abrem suas portas após às 18h.
Pois bem. Ontem fomos surpreendidos com mais uma surpresa desagradável. Em coletiva com a imprensa, a prefeitura, juntamente com o comitê de epidemiologistas, anunciou a tão esperada ‘flexibilização’. A partir de sábado (8), clubes e feiras poderão reabrir depois de quase dois meses fechados. Parte do comércio considerada essencial, como padarias e supermercados, também voltará a funcionar aos domingos, enquanto nós, do setor de alimentação fora do lar, tivemos apenas o nosso horário de funcionamento ampliado das 16h para às 19h, entre segunda-feira e sábado.
Mais uma vez, um segmento importantíssimo para a economia da cidade criativa da gastronomia é massacrado e desdenhado. Depois de tantas perdas, tínhamos a esperança de enxergar um lampejo de luz no fim do túnel com a possível reabertura neste domingo próximo, tão importante para o nosso setor, que a cada dia vem se desfazendo de forma assustadora e cruel.
Queria tentar entender quais critérios são analisados para contemplar alguns setores em detrimento de outros nesses tantos e tantos processos de reabertura que venho assistindo há mais de um ano. O que chama mais atenção nesse cenário vasto de incoerências é o fato de que os atuais índices de monitoramentos da Covid-19 na capital mineira vêm registrando quedas desde o início da semana. A taxa de transmissão da doença, conhecida como RT, está em 0,95, no patamar verde. Já a ocupação de leitos de UTI e enfermaria é de 76,1% e 53,5% respectivamente. Isso significa que este panorama permitiria sim uma flexibilização mais acentuada.
Entendo a importância de uma operação ancorada em novos formatos, com rígidos protocolos sanitários. Desde março de 2020, por sinal, essa tem sido a nossa realidade. Sempre que temos a possibilidade de retomar, nos preocupamos em seguir as regras impostas. Mas será que estão se preocupando e entendendo a nossa realidade da mesma forma que precisamos nos adaptar ao ‘novo normal’? Até quando vamos continuar pagando uma conta que não é, e nunca foi, exclusiva do nosso segmento?
Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira
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