*Conteúdo originalmente publicado no jornal Hoje Em Dia
Em junho de 2018, a Câmara Municipal de Belo Horizonte tentou aprovar um Projeto de Lei para obrigar bares, restaurantes e lanchonetes da cidade a informarem nos cardápios a presença de glúten, lactose ou açúcar nos alimentos servidos. A medida tinha o intuito de prevenir o consumo por pessoas com intolerância ou alérgicas a esses componentes.
O PL, que não chegou a entrar em vigor, determinava que estas informações deveriam ser apresentadas em língua portuguesa e de forma clara e legível ao consumidor, bem como a natureza diet ou light dos alimentos, definida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Dia desses, ao refletir sobre o assunto, cheguei a seguinte conclusão: por que já não fizemos essa adequação de forma voluntária, sem esperar a interferência do Poder Público?
Penso assim, pois a cada dia que passa o ser humano está sedento por informações dos mais diversos tipos. As antigas enciclopédias Barsa estão, hoje, no clique do celular. Sendo assim, quanto maior o número de dados adicionais no cardápio, inclusive na versão digital, maior será o diferencial competitivo do estabelecimento e mais credibilidade ele terá junto a seus clientes.
Um exemplo prático: ao invés de informar que você oferece apenas uma pizza de mozarela, que tal citar, também, de onde vem o tomate usado na receita? Quem tem essa postura traz um valor agregado para o prato. Isso é algo superfácil de ser feito e está em nossas mãos. É uma interessante ferramenta de marketing que, muitas vezes, não é usada.
Outro caso que vale a pena citar: Belo Horizonte é, agora, Cidade Criativa da Gastronomia reconhecida pela UNESCO. Por que não incluir nos cardápios o selo dessa chancela? Essa informação é importante não só para o turista, mas também para o próprio morador da cidade, que pode não saber dessa conquista e, ao ter conhecimento, adquire uma relação de pertencimento a sua história e a seu município.
As informações complementares no menu também são superválidas. Se seu bar está localizado na região da Pampulha, uma ótima dica é reservar uma página [do cardápio] para falar deste patrimônio cultural, como curiosidades, informações relevantes que muitas vezes passam despercebidas ou, quem sabe, criar pratos inspirados na história do lugar.
Não podemos esquecer que a gastronomia está intimamente entrelaçada ao turismo. Prova disso é que o turismo gastronômico em Minas é um de nossos carros fortes. Daí a necessidade de aproveitarmos este canal direto de comunicação com os clientes [que é o cardápio] e envolvê-los, não só, no universo de sabores do restaurante, mas também mostrar a relação da comida que ele consome com a cidade na qual está.
Ricardo Rodrigues – Presidente ABRASEL-MG e Coordenador da Frente da Gastronomia Mineira
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